Balada gay, festa queer, bafo LGBT, fervo das empoderadas… Hoje em dia, é comum vivenciar esses eventos, principalmente na cidade de São Paulo, conhecida por sua vida noturna fervilhante. Afinal, a cultura da noite gay é uma realidade indiscutível. Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que o que se ouvia sussurrar, à boca pequena, era algo tipo “boate para entendidos”, “festa alternativa”, e por aí afora. Para chegarmos até o momento em que a São Paulo tem uma das maiores comunidades LGBTQIA+ do mundo foi um longo caminho. Então prepare-se para (re) conhecer essa trajetória. Vamos embarcar no… túnel do tempo da noite gay paulistana.
PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 20 (1900 a 1950)
Pois é, há cem anos, já tinha gay passeando na noite de São Paulo. Mas não existiam boates nem bares especificamente dedicados a esse público. Claro que a comunidade LGBTQIA+ da época frequentava os lugares básicos, onde todo mundo ia (héteros e gays): cabarés, restaurantes, inferninhos, cafés, teatros de revista, etc. Era tudo junto e misturado, mas é óbvio que o preconceito e a homofobia eram moeda corrente. Os “frescos” ou “pederastas” eram considerados figuras folclóricas e “marginais”, quase sempre ligados a uma espécie de “submundo” e, portanto se aproximavam das prostitutas, cafetinas, gigolôs, michês, malandros e contraventores em geral.
Havia, mesmo assim, um espaço relativamente livre para os LGBTQIA+ de então: a rua. Mais precisamente, parques, praças e boulevares no Centro da cidade (Praça da República, Largo do Arouche e afins). Era nesses espaços que ocorria o famoso “footing”, prática onde o povo ficava caminhando pra lá e pra cá, batendo perna, pra ver se “pescava” algum lance (namoro, amizade, transa, o que viesse). Era assim que as empoderadas da época caçavam. Olho no olho e corpo a corpo. Não tinha celular, nudes, aplicativos, whatsapp, Facebook, nada!!!
Esse período um tanto romântico da história LGBTQIA+ pode ser conhecido com mais detalhes em dois livros obrigatórios: Além do Carnaval, 2000, de James Green (imagem ao lado), e Devassos no Paraíso, 2000, de João Silvério Trevisan)
ANOS 50/60: VEM PRA RUA!
Já na década de 50, começam a surgir os primeiros points gays na cidade. Na verdade, eram bares que não se identificavam como gays, mas que a comunidade do babado “invadia”. Por alguma razão, o público LGBTQIA+ passava a dominar o bar e, quando o proprietário (sempre hétero) se dava conta, o local já era um ponto “bicha”. Assim, ficaram famosos bares como o Anjo Azul – todos localizados, novamente, no Centro.
Mas o grande centro gay do período viria no início dos anos 60: nascia a Galeria Metrópole, inaugurada em 1964, na Avenida São Luís, e que está de pé até hoje. Muitos gays testemunham que, desde a época da construção do prédio, as bichas já planejavam: “Quando esse lugar abrir, vai ser nosso!”. E de fato, elas dominaram o espaço desde a abertura, a ponto do local ser estigmatizado como um “ponto de veados”.
Havia, mesmo assim, um espaço relativamente livre para os LGBTQIA+ de então: a rua. Mais precisamente, parques, praças e boulevares no Centro da cidade (Praça da República, Largo do Arouche e afins). Era nesses espaços que ocorria o famoso “footing”, prática onde o povo ficava caminhando pra lá e pra cá, batendo perna, pra ver se “pescava” algum lance (namoro, amizade, transa, o que viesse). Era assim que as empoderadas da época caçavam. Olho no olho e corpo a corpo. Não tinha celular, nudes, aplicativos, whatsapp, Facebook, nada!!!
Esse período um tanto romântico da história LGBTQIA+ pode ser conhecido com mais detalhes em dois livros obrigatórios: Além do Carnaval, 2000, de James Green (imagem ao lado), e Devassos no Paraíso, 2000, de João Silvério Trevisan)
ANOS 50/60: VEM PRA RUA!
Já na década de 50, começam a surgir os primeiros points gays na cidade. Na verdade, eram bares que não se identificavam como gays, mas que a comunidade do babado “invadia”. Por alguma razão, o público LGBTQIA+ passava a dominar o bar e, quando o proprietário (sempre hétero) se dava conta, o local já era um ponto “bicha”. Assim, ficaram famosos bares como o Anjo Azul – todos localizados, novamente, no Centro.
Mas o grande centro gay do período viria no início dos anos 60: nascia a Galeria Metrópole, inaugurada em 1964, na Avenida São Luís, e que está de pé até hoje. Muitos gays testemunham que, desde a época da construção do prédio, as bichas já planejavam: “Quando esse lugar abrir, vai ser nosso!”. E de fato, elas dominaram o espaço desde a abertura, a ponto do local ser estigmatizado como um “ponto de veados”.
Sem falar no primeiro Autorama da cidade: tratava-se do quadrilátero que cercava o Teatro Municipal, englobando as ruas Barão de Itapetininga, 24 de Maio, São João, 7 de Abril… De noite, o povo ficava andando ali, enquanto as mais privilegiadas passavam de carro para escolher os eleitos. Mas não era michetagem: era paquera mesmo. Dali surgiam casais, transas e tudo o mais.
Até então, nada de boate gay. As casas noturnas continuavam sendo basicamente heterossexuais, embora os gays as frequentassem também. Somente no final da década de 60 surgiriam as primeiras. Uma delas foi a pitoresca Hi-Fi, instalada no andar de cima da lendária loja de discos Hi-Fi, em plena rua Augusta, lado Jardins.